Esporte,Exercício Físico,futebol americano,Preparação Física Treinamento pós competição principal: o que fazer após o pico de performance?

Treinamento pós competição principal: o que fazer após o pico de performance?

A periodização tradicional (aquela importada da Rússia, entre os anos 50 a 70) dita que o atleta deve manipular suas cargas de treinamento ao longo de X período (geralmente 6 a 12 meses) para atingir um pico físico e mental na principal competição (pode ser desde um estadual até as Olímpiadas). As coisas começam a ficar um pouco mais complicadas quando olhamos para o calendário do esporte moderno. Em esportes coletivos, você tem competições (duas ou mais) o ano todo, com o calendário cheio de jogos importantes. Até mesmo para os esportes individuais, existem ligas e competições importantes que acontecem antes ou depois da “competição principal”. Tudo isso pode fazer com que a ideia de pico de performance fique mais “nebulosa”, difícil de enxergar ou escolher. Imagina como lesões que acontecem ao longo da temporada podem também influenciar.

Te apresentei isso para mostrar como um programa de periodização não é tão simples como vemos nos livros ou na Internet. É necessário aqui um acompanhamento de um profissional experiente para guiar o atleta nessa jornada. Mas para agora, vou comentar como estou pensando a minha periodização.

Para periodizar no futebol americano no Brasil precisamos levantar as seguintes considerações: quantas competições no ano? O Weilers joga duas, SPFL e CBFA; qual o status do time nessas competições? (Briga pelo título? Briga por playoffs? Briga para se manter na elite?) Aqui no Weilers estamos brigando pelo título nas duas competições. Qual o status do jogador no roster? Muitos aqui gostam de exagerar, ou se sentem ofendidos. A pergunta é sem EGO nenhum, nem para baixo, nem para cima. Você é starter absoluto? Vocês rotacionam bastante durante o jogo? Estão brigando por vaga? Ainda não tem chance de startar? Minha posição no Weilers em todos os jogos da SPFL foi de Starter. 

Respondendo honestamente essas perguntas, podemos começar a mapear a periodização do atleta. Pegando o Weilers como exemplo: se tudo correr como planejado, eu só preciso atingir meu pico na final do campeonato. E foi o que eu fiz. Então eu podia me dar ao luxo de estar mal fisicamente em alguns treinos, e também não estar 100% em alguns jogos, por que eu ia precisar castigar meu corpo com treinamento para “sacar do banco” somente na final. Agora, olhemos um atleta brigando por vaga em um time que briga pelos playoffs. Se ele for um atleta bem preparado fisicamente, mas que falta técnico/tático, não faz sentido no mundo em destruí-lo na preparação, fazendo com que ele chegue mal nos treinos e não demonstre para os técnicos que ele tem capacidade de startar. Além disso, ele deve estar bem nos jogos que vão dar mais chances ao seu time, por que todos os jogos podem ser o último. 

Vamos focar ainda mais no meu caso. Meu jogo é baseado em técnica, velocidade e mudança de direção. Para isso, o enfoque do meu treino reflete isso. Eu sei que para o nacional, vou precisar botar mais carne na carcaça. Mas calma. Para a SPFL todo o meu treino foi pensando em volta de potência e força, com as fases de treino (hipertrofia, velocidade, força máxima, etc.) subjugadas a, de novo, força e potência. Eu fui subindo a intensidade até próximo dos playoffs, e 10 dias antes comecei a descansar, reduzindo bastante o volume. Na verdade, o volume de inferior caiu absurdamente, foi quase um destreino, com o objetivo de acelerar a conversão para fibrar tipo 2x. Meu ciclo inteiro de treino foi baseado em circuitos de potenciação. Assim eu foquei muito mais na parte neural do que na parte muscular.

Com o nosso título da SPFL, e consequentemente o final do campeonato, meu sistema neural e articulações estavam desgastados, no limite. Eu precisava de um break. O que eu não fiz o primeiro semestre inteiro, que foi inédito para o meu corpo (e consequentemente provocar adaptações), que não iria taxar meu sistema nervoso e articular, e ainda assim contribuir para meu desempenho?

Primeiramente, tirei uma semana de férias. Sério, uma semana sem treino, nem dieta, nem F.A. Primeiro por conta das minhas dores, mas principalmente por uma costela trincada. Depois pela parte mental. Passada essa primeira semana, a resposta é óbvia: um treinamento com enfoque na parte muscular!! Eu preciso botar carne na carcaça, e não quero fazer isso nos playoffs, e um treino de 4×8 não exige muito do sistema nervoso.

Assim, pelas próximas 6 semanas, meu enfoque foi em ganhar músculo. Dois blocos de 3 semanas. O primeiro bloco é bem simples. 3 a 4 exercícios por região, 1 vez na semana para cada grupamento, dividido entre peito, perna posterior, costas, perna posterior e braços/ombros. Para o primeiro exercício do dia, 4 séries progressivas sendo que a última é até a falha, para o segundo 3 séries progressivas, para o terceiro são duas e o último uma. Então em um dia de peito ficou assim:

RPR

Wenning Warm-ups 

Supino Reto com barra: Pirâmide para 3 repetições máximas (não deixar de fazer força máxima, ainda que o mínimo necessário)

Supino Inclinado com Barra: 3 séries progressivas de 8 repetições

Crucifixo com Halteres levemente inclinado: 2 séries progressivas de 8 repetições

Supino inclinado com halteres ou flexão: 1 série até a morte

No segundo bloco as coisas começam a ficar mais divertidas. Aqui eu posso começar a jogar algumas séries de intensidade: CLUSTERS, MUSCLE ROUNDS, DROP-SETS, DROP-SETS MECÂNICOS, MYO-SETS e muitas outras. Bem divertido hahahaha.

Após esse período, voltei aos meus 98 kilos que estava no começo do ano, mas agora muito mais definido. E a partir daí então transitar para o trabalho neural e perder “o peso inútil”.

Espero que esse artigo tenha te ajudado a pensar melhor sobre sua periodização, seus treinos e seu planejamento!

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