Atividade física,Esporte,Exercício Físico,Preparação Física Transferência esportiva: qual o real papel do treinamento para o esporte?

Transferência esportiva: qual o real papel do treinamento para o esporte?

Dentro das teorias de aprendizagem motora, quanto maior for a similaridade entre as habilidades motoras, maior será a transferência para a nova situação. E isso é talvez o maior foco dentro do treinamento esportivo, fazer com que o treino faça o atleta melhor na competição.

Um dos maiores desafios de um treinador é fazer uma equipe ou atleta executar bem uma determinada habilidade numa determinada atividade dentro do treinamento na academia ou ambiente controlado no treino em campo e depois, manter ou melhorar o padrão de execução da mesma habilidade dentro da competição propriamente dita. Como por exemplo, um exercício na academia para ser refletido na melhora do gesto esportivo, seja ele qual for.

A transferência de habilidades de uma atividade para outra (e do treino para o treino, e do treino para um jogo) deve ser o objetivo final do treinador! 

Quando há falta de transferência, pode indicar que os jogadores ainda se encontram numa fase de “incompetência” na aprendizagem. Isto significa provavelmente que o treinador precisa de ser explícito sobre a execução da habilidade na nova atividade e principalmente que o treinador precisa investigar o motivo do movimento e habilidade não estarem melhorando ou sendo mais bem executados.

Algumas dicas para melhorar o processo:

• Conduzir um exercício que se baseie nas habilidades de uma atividade anterior próxima de quando ela foi realizada;

• Usar “bullet points” ou palavras chave em cada atividade, para lembrar aos jogadores os pontos chave de ensino da atividade anterior sem necessidade de parar esta última atividade;

• A modificação progressiva da atividade para acrescentar elementos à mesma, em um processo de controle das restrições dos movimentos e tarefas.

• Estabelecer objetivos na atividade mais complicada que se referem especificamente à atividade básica;

• Dar feedbacks ao atleta durante a execução, de maneira clara e confirmar quando o movimento for bem feito e corrigir de maneira clara quando não, informando o ponto a melhorar;

Considerando que as habilidades motoras multifuncionais globais treinadas – como correr, saltar, agachar, puxar, empurrar, rotação e levantar devem ter como objetivo primário ajudar a desenvolver capacidades como equilíbrio, mobilidade, estabilidade, força, potência, velocidade, coordenação motora, consciência corporal e agilidade dentro do contexto esportivo da modalidade.

Uma das linhas desenvolvidas hoje em dia é a da tripla extensão em exercícios explosivos para os membros inferiores (como um LPO) sendo correlacionada com a transferência positiva para o movimento de corrida e saltos. Mas fazer somente isso, fará o atleta correr mais rápido e saltar mais longe?

Caso o atleta seja avaliado e precise por exemplo de maior força no quadríceps para correr mais rápido, o treinador não pode pensar em um exercício isolado para fortalecer essa região. Ele deve pensar em um modelo holístico de como atacar essa questão. Abordando diferentes pontos e pensando fora da caixa, uma leitura interessante é a teoria dos sistemas complexos, criado e desenvolvido por Frans Bosch, que traz o treinamento como a montagem de um quebra-cabeça para que os atletas resolvam, que seja relacionado com seu esporte e/ou problema do qual estejam se recuperando. E é isso que o fará melhor à medida que é realizado.

Se o treinador quer um resultado diferente do que está sendo apresentado, ele precisa ajustar o quebra-cabeças (ou tarefas), as restrições ou o ambiente para permitir que o resultado se desenvolva organicamente no atleta.

Por fim, é importante pensar no treinamento de atletas não como uma simulação de 100% do jogo ou de respostas óbvias, de maneira a apenas compartimentalizar cada parte e sim do desenvolvimento de padrões, movimentos e tomadas de decisão, trabalhados em contextos controlados e aplicando estruturas interligadas aos atletas. O objetivo é garantir que a ação do treinamento seja refletida na competição.

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